Descansou, parou...como em mais dias sem nada que fazer... só descansar!Era Domingo...
Fez do seu dia, mais umas horas de preguiça e dores no corpo por
sentir o colção mole!
Lembrou-se de tudo, o que lhe trazia a memória, e esqueçeu-se de tudo...com força para não mais lembrar!
Embrulhada em edredons sem fim e embriagada pelos lentos e chatos programas da tv...ficou morna e parada como as águas do rio que secou ontem!
Foi quando, naquele que era o dia depois, acordou mais cedo...nasceu de novo, porque o dia começou só para ela!
Porque mais um dia lhe foi ofertado, como todos os outros...
Nesses outros dias, foi com força que rasgou embrulho sem pena da sua beleza, e de querer guardá-lo para recordação!
O laço deste que lhe ofereçeram, era dourado e tinha sabor a leite com mel...pela manhã!
Descolou cada pedaço de fita-cola com a lentidão, como a das águas que o rio tinha antes de secar!
Desfez cada vinco do papel, que a mulher da loja levou segundos intermináveis a traçar, a cravar as ulhas grandes e vermelhas! Unhas da cor do sumo que nos faz estarmos vivos!
O papel cheirava a sol quente e sentia-se bem... como o aroma fresco da roupa lavada!
Abriu o presente e os olhos encheram-se de água, aquela que ontem bebera dos lábios molhados - por em pranto se ter recordado daquilo que não mais se queria lembrar!
Eram oito da manhã...e já alguém lhe oferecera um dia bonito!
Com o peso da roupa de marca em cima, o fardo de ter que pegar no garfo para levar o à boca com a comida quente e saborosa da loja das massas! Era comida italiana...mas que depois ficou enjoativa.Pasta!- que desprezou umas gramas na outra metade do prato.-
Bebeu de seguida por uma chávena- talvez de porcelana que até estava enfeitada com rebordos dourados-.A chávena: que tinha dentro um euro de café dissolvido em água de ouro!
Mais um euro que tinha perdido da carteira... a carteira: que há três anos atrás regateou com a cigana da rua.
Já está cansada da carteira...queria ter uma nova, mais bonita!
Insatisfeita, seguiu de novo para o trabalho...dizia sempre que trabalhava:-... de graça!
Trabalha ali porque querem que ela seja feliz, e porque no fundo acha que um dia vai comprar uma carteira nova!
Já no final do dia, depois de horas a trabalhar - sentada na cadeira, dando-se somente ao trabalho de os ouvir a todos - cede a mais um dos caprichos de um dia "feliz": voltar para casa sentada no carro que recebeu aquando dos seus dezoito aninhos.
No meio dos ruídos e dos maus cheiros, estava acomodada nas paragens e arranques do carro da frente! Sentia-se observada e nem musica podia ouvir...porque o presente dos seus dezoito anos vinha sem rádio!
Ficou uma meia hora a destilar a restante água do rio...porque estava sol e o calor molhava as suas axilas e fazia escorrerem ainda mais gotas de água...que agora vinham da testa gelada!
Parado, o carro ficou calado, a porta fechou-se e dentro dele o bafo dos cigarros que fumou, uns seguidos aos outros, debaixo do sol!
Chegou a casa e arrastou-se no meio do silêncio desta, até ouvir o barulho da água a correr pelos buracos do chuveiro branco! Esse chuveiro era uma nova aquisição, porque o outro, feio, estragou-se!
- Este já é mais engraçado. Pensou.
Mas era de plástico, não o que ela gostaria de ter: ...aqueles pesados, de porcelana e com rebordos dourados: com a cor do laço do presente que desembrulhou de manhã!
Mole e morna...foi aqueçer-se mais ainda, para o edredou que deixou arrefecer durante todo o dia...quando saíu de casa!
Alí, lembrou-se de novo...do que não queria recordar. Recordou...
E deixou que amanhã, o dia lhe desse outro presente...para se esqueçer do que tinha recebido ontem.
Agora, podia ter uma colecção de papel de embrulho, colorina...e a caixa que estava guardada para eles...está vazia!
Viveu hoje...estúpida de querer que a vida toda fosse feita de pormenores.Pormenores esses que nunca farão com que a vida seja como um presente, como um pormenor!
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